sexta-feira, 6 de março de 2015

A evolução e a involução das expressões

Juliana Paes como Gabriela. Google Imagens

Por Cintia Liana Reis de Silva
Texto publicado no blog Fina Presença em 14 de agosto de 2012

Eu e meu marido assitindo o novo Remake de Gabriela aqui na Itália, ele pergunta tudo, sobre todas as expressões antigas em português do interior, e aí vamos descobrindo coisas muito engraçadas. Por exemplo, vcs já pararam para pensar no que significa "Teúda e manteúda"? É um termo dito de maneira errada, vem do latim, que quer dizer em italiano "Tenuta e mantenuta", em português deveria ser "Tida e mantida", a mulher que serve só a um homem e é mantida por ele.

Tem outras expressões que, pensando bem, não têm muito sentido, mas nós criamos o significado bem claro ao longo do tempo. As palavras vão mudando, tomando outra forma e quando a gente vê já é dita de maneira bem curta e fica sem sentido pra quem não viveu a construção daquele significado. O português original vai se perdendo e se criam outros signos. Enquanto isso, brincar com as palavras é bem divertido.

Fonte: http://finapresenca.blogspot.it/2012/08/a-evolucao-e-involucao-das-expressoes.html

O sorriso de Cintia Liana

Cintia Liana na Capella Sistina, Museu Vaticano (2009)

Por Cintia Liana Reis de Silva
Texto do livro e blog Fina Presença (19 de junho de 2010)

No dia 03 de fevereiro de 2009 comecei a dar aulas de ética e Legislação numa Faculdade de Salvador. Dividi o semestre em dois momentos, a parte de ética e comportamento e a de legislação.

Nas primeiras aulas deixei que os alunos debatessem bastante, tirassem dúvidas, falávamos dos temas mais polêmicos, pautados na ética, costumes, tradição, moral, hábitos, preconceitos, cultura e história.

Para o meu susto e felicidade, ao mesmo tempo, alguns alunos acharam meu “método diferente, moderno”, mas que uma parte deles estava achando problemático, estavam se sentindo "soltos", sem conseguir seguir o curso das aulas.

Eu não sabia que o modo de dar aulas por aí ainda estava tão arcaico, pois o que eu fazia não eram tão moderno assim, acredito eu, pois alguns de meus antigos professores da PUCC já davam aulas assim, como eu estava fazendo, desde o final dos anos 90, e nós estávamos em 2009, mais de 10 anos depois.

Enfim, fiz com que entendessem qual era meu objetivo e onde eu queria chegar. A grande maioria estava encantado com os temas focados na psicologia e passaram a entender melhor as bases das relações interpessoais. Recebia bilhetinho de como estavam sendo boas as aulas, verdadeiros momentos de reflexão crítica e a percepção de como a psicologia era importante para o entendimento de tudo.

Primeira prova? Em dupla, discursiva, com 4 questões, analisando aspectos do filme “O Sorriso de Monalisa”, com Júlia Roberts. Filme que para mim deflagra o quanto somos manipulados pela cultura e costumes e o quanto a arte pode nos ensinar, nos libertar.

O filme fala de uma professora de História da Arte, Catherine Watson, que sai de sua idade e vai para uma outra, ensinar numa escola para moças. Com o tempo, a professora descobre que alí é um centro de formação de donas de casa instruídas. Mas o seu desejo em ampliar os horizontes daquelas moças não acaba e ela enfrenta todas as dificuldades impostas por um pensamento religioso, ortodoxo da instituição e da sociedade da época, mas consegue mostrar que existe a possibilidade de um futuro mais enriquecedor para muitas delas e que existem outras escolhas.

Catherine Watson fala de arte de modo formidável, doce, inteligente. É um filme encantador, apaixonante e Júlia Roberts está, como sempre, linda, exuberante.

Os outros meses de minhas aulas se seguiram com legislação. Pessoas dizendo como haviam se tornado menos interessantes os temas, mas tínhamos que seguir a ementa do curso, a segunda parte do semestre com legislação, de modo mais formal.

Os alunos devem ter entendido como é mais gostoso o “método mais moderno”, o “método mais livre”, do livre pensar.

Ao final de semestre, percebi algo bastante interessante, coisa de filme, ou melhor, coisa de consciência da realidade futura que influencia na escolha do filme e coisa de filme que influencia também a realidade. Estava fazendo um percurso bem perecido com o da professora Catherine Watson, pedindo demissão da faculdade para ir a Itália no final do mesmo semestre passar férias e começar a pesquisar como validar meu diploma, fazer uma nova pós-graduação, trilhar novos e mais ousados caminhos e, seguramente, conhecer a Capella Sistina de Michelangelo.

Cintia Liana

... E em outubro de 2011 conheci o Louvre e a Monna Lisa.


Cintia Liana no Louvre em Paris, na frente da Gioconda (Monna Lisa),
pintura mais famosa de Leonardo da Vinci (2011)

Filme "O sorriso de Monalisa", "Mona lisa Smile", com Julia Roberts

Fonte: http://finapresenca.blogspot.it/2010/06/o-sorriso-de-cintia-liana.html

Corrigindo os outros

Google Imagens

Por Cintia Liana Reis de Silva
Texto do Livro e blog Fina Presença, escrito em 30 de agosto de 2010.

Desde que temos 1 ano de idade que ouvimos que devemos ser humildes, blá blá blá... Sabemos, mas são palavras, isso se passa de modo superficial.

Trabalhamos a nossa humildade na vida e a exercitamos por um desejo próprio que tem a ver com nosso temperamento, mas isso não se aplica quando se trata de ser corrigido gramaticalmente quando se está numa conversa em grupo.

Acho muito chato uma pessoa estar falando e um outro ao lado interrompendo corrigindo, principalmente quando se está aprendendo outro idioma. Ninguém se aperfeiçoou assim em conjugação verbal, muito menos quando se trata do tempo verbal “condicional”.

Gosto de ler, estudar e amo falar e escrever bem, sabendo que perfeição é impossível e certamente não irei corrigir ninguém se ouvir uma palavra errada. Se for preciso o farei com minha mãe, meu pai ou meu irmão, e eles sabem que podem fazer o mesmo comigo, mas não esperem que eu o faça com outras pessoas, caso escorreguem em seu português, não o farei, não me sinto no direito e nem na obrigação.

Já fui professora de Comunicação Empresarial de uma faculdade e ganhava para fazê-lo, e o fazia utilizando uma didática especial e não abordando alunos em sala, o que seguramente causaria muito desconforto.

Também não ficarei controlando o que fulano ou sicrano deve fazer e como fazer. Estou fazendo um esforço para deixar de lado essa mania que muita gente tem de querer controlar as pessoas e ainda chegar a ousadia de querer que os outros sejam humildes para serem controlados mais facilmente.

É se achar demais tentar controlar os passos e escolhas dos outros, é ter a certeza de que sabe mais que todo mundo e até mesmo do que a própria pessoa que passa pela situação.

Nós psicólogos aprendemos que nunca devemos influenciar nosso paciente a fazer nada e sim chegar a clareza das situações, pois cada um é que sabe os caminhos que está disposto a atrair para si mesmo, tudo tem um motivo e faz sentido dentro de um todo, de uma dinâmica maior. Mesmo que não faça sentido para alguns, mas tudo tem um motivo, tem um mistério.

Ninguém gosta de ser corrigido, nem controlado, nem eu. Não sou hipócrita, não vejo sentido dizer que sim sentido o contrário, muito menos na frente dos outros, de estranhos, me sentiria num posto infantil, alguém me dizendo como falar e o que devo fazer ou como devo me comportar. Tem gente que diz que gosta, mas vai corrigir ou controlar pra você ver o que te acontece!

Não acredito que gostar de ser corrigido ou controlado na frente dos outros seja sinal de humildade, acho que ser humilde é bem outra coisa, é estar leve e não se sentir obrigado a ser líder ou professor de ninguém.

Fonte: http://finapresenca.blogspot.it/2010/08/corrigindo-os-outros.html

quinta-feira, 5 de março de 2015

Surtos psicóticos em imigrantes


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Surtos psicóticos em imigrantes. Já ouviram falar?


Imigrar é uma tarefa muito difícil. A pessoas antes disso naturalmente se alimentam de sonhos e idealiza a terra sonhada, mas os fenômenos psicológicos imigratórios são fortes e se a pessoa não se sente forte, apoiada, confortada e segura, essa situação de fragilidade emocional gerada pelas grandes mudanças na imigração podem desencadear sérios problemas mentais.

A "Psicose Reativa Aguda ou surto psicótico no migrante, continuou a chamar a atenção de vários pesquisadores e psiquiatras ao longo do século e passou a ser entendido como um tipo privilegiado de manifestação psicopatológica do migrante recente (Bastide, 1969; Lee [et. al.] 1992; Ferreira, 1999). Em nossa experiência em Emergências Psiquiátricas, a observação do aumento do número de crises psicóticas em migrantes recentes, nos levou ao estudo das relações entre suas vivências psicopatológicas e o lugar que ocupavam no espaço urbano, destacando a experiência da estranheza e do estranhamento (desrealização e despersonalização). Se o migrante aventura-se no espaço estranho visando ser um outro, esta abertura do eu é vivida com fascínio e temor, uma vez que o sujeito duplica-se, sofrendo a ameaça de não conseguir realizar o desdobramento subjetivo. No tumulto e à deriva, ele é tomado pelo outro. Desta forma, entendemos o surto psicótico como sendo este fenômeno de subversão do sujeito, onde o eu é tomado pelo outro.

É no confronto entre as suas referências anteriores e a defasagem de seu sistema de representações para responder às solicitações atuais, que situamos a tensão inicial do migrante. Os efeitos da rejeição e da discriminação podem acentuar o seu sentimento de estranheza e facilitar a sua desarticulação. É nesta tensão frente ao espaço estranho e polissêmico da metrópole, que situamos a ruptura da psicose." (Ferreira, A. P., 2001, UNRJ)

Cintia Liana

Mudar de País é para um forte guerreiro, é para um leão

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Imigrar é uma atitude muito impactante, mesmo quando se está por um tempo determinado. Imigrar para um País diferente implica arcar e conviver com um outro sistema de referências, sistema de registros, sistema simbólicos, outros sistemas linguísticos objetivos e subjetivos, com uma nova identidade, com a perda de uma identidade para que se construa outra nova a partir dessa nova experiência em um "outro mundo", implica na elaboração de um luto pela distância de sua pátria, cultura, costumes, ambiente, família, meio social, língua, etc. 

O primeiro ano é de grandes novidades, mas é um ano mentalmente muito cansativo por causa da elaboração da nova língua. 
Quando alguém imigra os outros projetam no imigrado outros significantes, além de tudo isso tem as mudanças objetivas como o clima, a culinária, os hábitos, o funcionamento prático da vida. São mudanças que mobilizam muito qualquer indivíduo, não é a toa que muitos imigrantes surtam algum tempo depois de mudar de País. 
"É no confronto entre as suas referências anteriores e a defasagem de seu sistema de representações para responder às solicitações atuais, que situamos a tensão inicial do migrante. Os efeitos da rejeição e da discriminação podem acentuar o seu sentimento de estranheza e facilitar a sua desarticulação." (Ferreira, 2015)
"A experiência com o estranho, pode ser entendida como sendo aquilo que provoca a desarticulação do sujeito, enquanto que a experiência com o que é familiar reforça os aspectos que referendam o eu. No lugar de deslocado, sem o nexo dos sentidos, o migrante perde suas referências e sua capacidade de resignificar e de ordenar o seu universo". (FERREIRA, 2015)
Habitar deve ser uma experiência prezerosa de amorosividade, afetividade, apoio, suporte, compromisso.
Muitas pessoas sonham em mudar de País, mas quase ninguém sabe como é difícil essa atitude de leão.


Referência: 

Ferreira, A. P. O IMIGRANTE NO ESPAÇO URBANO: IMPASSES, ESTRANHEZA E PSICOSE. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. 
Universidad de Barcelona [ISSN 1138-9788] Nº 94 (24), 1 de agosto de 2001. Disponível em:http://www.ub.edu/geocrit/sn-94-24.htm. Acesso em: 09 de fevereiro de 2015.